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Igreja de N. S. do Perpétuo Socorro - Caldeirão Grande-BA |
Dia 27 de abril de 2018, enquanto na Praça Edgar Pereira a multidão pulava e dançava na mais intensa animação e alegria, ainda comemorando o aniversário da cidade, eu, na sacada da casa 378, na Rua da Matriz, contemplava a igreja lá no começo da rua e relembrava os primórdios da cidade e o zelo pela religião e educação de seus primeiros habitantes. Folheei o livro MEMÓRIAS da professora Marinalva Bezerra Santana e estava lá:
“Muito religioso, a exemplo de seus pais, o senhor Pedro Dias Bezerra (seu Piroca) transmitiu a verdadeira fé cristã e os bons ensinamentos não somente a seus filhos, mas a todos do seu convívio. Desde os tempos primordiais, encarregava-se da vinda de padres, missionários, hospedando-os por muito tempo, pois sua preocupação era uma vida cristã para todos com a participação dos Sacramentos da Igreja. Desse modo, o acontecimento mais importante para ele, naquela época, foi a realização da primeira Santa Missão em Caldeirão Grande, em setembro de 1943. Sendo a segunda realizada no ano de 1950.
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Senhor Pedro Dias Bezerra (Seu Piroca) e sua esposa D. Ermelina com os filhos |
Além da catequese, a educação também foi o seu constante compromisso, trazendo professores leigos para o ensinamento da leitura usando a carta do ABC, Cartilha do Povo e o Paleógrafo.
Alguns professores são lembrados e entre outros nomes, podemos citar:
• Alice
• Cecília
• Clarice
• Izabel
• Manoel Modesto, primeiro professor leigo da localidade vindo da cidade de Saúde;
• Maricas
• Stela.
Também atuou como professora leiga Diva, filha de Seu Dió, que reside em Ponto Novo-BA.
Em 1950, suas filhas, Alaíde e Maria da Glória, formaram-se em Magistério no Colégio das Sacramentinas de Senhor do Bonfim. Era um dos seus sonhos ver ‘um Caldeirão, grande, com escolas, comércio, boas casas, escola que dê formatura... Pois cá, já estudam as meninas’. Assim as chamava carinhosamente. Começaram a lecionar, transmitindo seus conhecimentos, através da escrita e da leitura, como também trabalhando a arte (teatro e música), a poesia, a religião, as festas e comemorações tradicionais, contribuindo assim, efetivamente com a cultura caldeirãograndense.
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As irmãs Ana Josefa, Professoras Alaíde e Maria da Glória |
Profª. Maria da Glória (Glorinha ou Gu), quando menina, gostava de recitar poesias e seus discursos eram muito apiaudidos. Ela tem a gratidão e o carinho de seus alunos daquela época em Caldeirão Grande, como Glória Gama, Gaminha, Tilinho, Aurinha, Zelinho, Florionice, Jildete e outras”. MEMÓRIAS/Marinalva Bezerra Santana
"A ação missionária... ficou marcada em Caldeirão Grande, na evangelização, na distribuição dos sacramentos, na celebração de missas, nas Santas Missões e no apoio à construção da Igreja Matriz. Até os dias atuais, Caldeirão Grande pertence à Paróquia de Nossa Senhora da Saúde. Convém ressaltar a memória dos franciscanos: Frei Félix Bolte, Frei Herculano, Frei Guilherme e outros, pelo valoroso trabalho realizado no município de Caldeirão Grande. Da década de 70 para cá, passaram por essa Paróquia Dom Antônio de Mendonça Monteiro, então bispo da diocese, e os seguintes sacerdotes: Pe. Paulo Batista Machado, Pe. Tiago Assis Batista, Pe. Orestes Heinen , Pe. Edmundo O. Rourke, Pe. Tonino, Pe. Miguel, Pe. Tomé e Pe. Charles, Pe. João Eleutério da Silva Filho, o atual". MEMÓRIAS/Marinalva Bezerra Santana
Tendo oportunidade de comparecer a alguns eventos escolares durante o período de preparação à festa do aniversário da emancipação política do município, pude constatar o amor que os caldeirãograndenses têm pela sua terra e como zelam pelas suas memórias; como cultivam as artes, o folclore as tradições. Os antepassados iniciaram uma história e essa vem sedo revivida e continuada.
O sentimento religioso ainda está vivo na vida das pessoas, mas nota-se que a prática litúrgica está precisando de um incentivo; está faltando lideranças e um pouco mais daquele entusiasmo do senhor Piroca e de quantos o cercavam para uma reanimação na participação nos atos religiosos. O povo tem a mente e o coração aberto, faltam o espírito missionário e a dedicação de todos nós que recebemos aquele legado da fé de nossos predecessores.
Feliz do povo que sabe relembrar o seu passado, viver o seu presente e construir o seu futuro! Parabéns, Caldeirão Grande, cidade querida!