domingo, 3 de junho de 2018

CALDEIRÃO GRANDE-BAHIA E SUAS CURIOSIDADES

Consta que em 1930, os “Revoltosos” passavam em Saúde. O grupo dos Revoltosos era um grupo de homens da Revolução dos Tenentes Ala Norte, comandados por Juarez Távora, para dar combate aos “Legalistas“, comandados por Horácio de Matos.

O fato é que até hoje, em Caldeirão Grande, ainda se comenta sobre o grupo, que naquela época, bastava correr a notícia da presença do mesmo por perto, as pessoas fugiam e escondiam-se no mato, pensando que fossem os Revoltosos ou Lampião. Se desse tempo, mandavam um aviso para os que ainda não sabiam da notícia:

“Fujam e se escondam todos...
Escondam também os animais.
Não é pra criança chorar
Nem cachorro latir
Nem galo cantar,
Nem papagaio falar”.

O primeiro automóvel que entrou na Vila de Saúde e rodou na região, foi um Ford do ano de 1928 de propriedade do Sr. Antônio Miranda em 1930.

Por onde o veículo passava, ficavam todos admirados.
Também nessa época, passou na região o primeiro caminhão vindo de Salvador de Artur Costa Lima. De 1932 a 1940, começaram a trafegar caminhões na Vila de Saúde.

E o primeiro caminhão que entrou em Caldeirão Grande, foi da propriedade de José Cerqueira, trazendo centenas de pessoas às ruas, causando admiração e espanto para alguns.

Em seguida começou a rodar o caminhão, conhecido como MACK, de Edgard Pereira.

O primeiro automóvel de Caldeirão Grande, foi o jipe de cor verde do Sr. Edésio Mota, residindo nesse município. Depois o jipe do Sr. Nascimento, a seguir, outros carros de negociantes que aqui entravam na segunda- feira, o dia da feira livre.

Por volta do ano de 1938, Joaquim Dionísio, filho do velho Dionísio, que costumava trazer novidades de São Paulo, e que já naquela época organizava animadas corridas de cavalo e argolinhas, trouxe um enorme rádio de pilhas, com caixa de madeira e o colocou no seu Bar de Sinuca, na antiga Rua da Matriz. As pessoas pagavam ingresso para ouvir e conhecer o aparelho.

Em 1963, chega o primeiro aparelho de televisão, em Caldeirão Grande, comprado por Valdivino (Neném), em Jacobina, por CR$ 1.200,00 (mil e duzentos cruzeiros) que o instalou no seu Bar Continental, onde as pessoas faziam fila, com ingresso no valor de CR$ 0,50 (cinquenta centavos), para assistir as imagens.

A seguir, Zezito e Agenário, também trouxeram outros televisores para a cidade.

Galdino Ribeiro, do Riacho Bonito, conta que seu tio, Roberto Francisco Pereira, e sua esposa Persília, de Caldeirão Grande, com seu sobrinho Néu, saíram de Pedras Altas, a pé, rumo a São Paulo. Andavam, paravam, arrumavam serviço e continuavam andando. Gastaram oito meses, para chegarem a terra da garoa. Este fato ocorreu no ano de 1944. Sabe-se que o Sr. Roberto, ainda reside na grande São Paulo, sem jamais ter voltado à sua terra natal.

Florência era o nome de Dona Loura, filha de Petronília e Euzébio Bezerra, primeira esposa de Manoel Quirino. Ela estava para dar a luz necessitando de cuidados médicos. O Dr. Antônio Ramalho veio de Senhor do Bonfim a Saúde de trem, e a cavalo para Caldeirão Grande, a fim de fazer o parto, porém, não conseguiu salvar a criança.

No ano de 1947 aconteceu a maior epidemia de malária ou impaludismo, também chamado de sezão, foi tão grande o número de mortes, nas localidades carentes da zona rural, que conduziam o defunto, apenas numa rede, para enterrá-lo, logo em seguida, voltavam com outro, mais outro defunto, na mesma rede, e assim sucessivamente.

Na década de 30 e anos seguintes, existiu a injeção “914”, o único recurso, para combater a febre tifo, que o doente ao tomá-la, corria risco de morrer ou salvar-se.

Do tronco do Juazeiro ou pau de rato, após queimado, colocava-se as cinzas umedecidas numa lata, a seguir coavam e obtinham um produto, tipo soda cáustica, que os mais antigos usavam para fazer o sabão.

A Laje do Bró ficou conhecida, por ser um dos locais, onde o Bró após extraído do tronco do ouricurizeiro, chegava em jegues carregados, como feixes de cana. As pessoas batiam na pedra, até transformá-lo em uma massa, que usavam para fazer cuscuz ou de outras formas, até mesmo usado como único alimento, no período das secas. “Ficar para comer bró ou morrer”

O Riacho da Água Branca nascia na Serra do Papagaio (Saúde), corria por entre as serras, atravessava as caatingas, passava por onde é o atual Açude de Caldeirão Grande, corria pelas terras do povoado de Água Branca e ia desaguar do Rio Itapicuru-Açu. Esse riacho de águas cristalinas secou e a ação dos ventos encheu seu antigo leito de areia. A Fazenda Água Branca e o povoado, conservam o nome do riacho desaparecido.

O período mais prolongado de estiagem, registrado no município de Caldeirão Grande, foi de 1993, que teve a duração de um ano e quatro meses sem chover.

Dona Xixi foi parteira na Fazenda Várzea Nova. Além da sua devotada função, possuía o dom de amansar qualquer animal feroz. Bastava impor as mãos e dizer: Afasta... Afasta... Que a vaca, o boi, o bicho bravo, se tornava bem manso.

A bisavó paterna da Prof.ª Glória Guirra, Dona Ermelina, teve 22 filhos. Certa vez, sua filha Benvina, insinuou para ela, dizendo:
- Ora, minha mãe, a senhora devia ter completado os 24 filhos. E sua mãe lhe respondeu:
- Isso fica para você...

E não é que Dona Benvina, casou-se e teve os 24 filhos?

Teve gente que ampliou mais ainda a sua prole:

Dona Otacília, mãe da Madalena da Fazenda Santa Maria, teve 25 filhos.
Dona Regina, de Seu João do Quebra-Queixo, teve25 filhos.
Dona Antônia, bisavó de Solange de Chiquinho, também teve 25 filhos.

O latim não desapareceu como muitos pensam. Existe na região de Caldeirão Grande, um grupo de mulheres o qual forma um belo coral, que cantam em latim “as excelências” encomendação ao defunto. Estas rezadoras estão sempre prontas para o eventual chamado. São as seguintes senhoras:

Dona Donata, Dona Beta e Dona Antônia que gosta de jogar dominó e sinuca, de caçar, pescar e ela é pra tudo, assim diz seus amigos. Todas residentes da Fazenda Umburanas.
Dona Ester ex-professora leiga que reside na Fazenda Caiçara.
Dona Deline, muito disposta moradora da Serra do Imbé.

O fato é que se não rezarem tudo certinho o defunto não aceita, ou seja a sua alma não fica encomendada. A solução é começar tudo novamente.

Quanto ao cinema em Caldeirão Grande, as pessoas aguardavam com ansiedade pelo dia da segunda-feira, quando o Seu Balbino e irmãos, que negociavam com tecidos e confecções, após a feira, com seu projetor, passava filmes para uma grande plateia.

O cinema funcionava no salão de depósito de compra e venda de produtos da região de Edgard Pereira e de Alexandre Bezerra, que ficava sempre lotado. Se sentavam sobre os sacos de licuri e de mamona. A maioria que não quisesse permanecer de pé, levava cada qual a sua cadeira, banco ou tamborete, ás vezes na cabeça, pois o que não queriam mesmo era perder nenhuma sessão naquela época, quando mais que uma diversão era a grande atração para o público, filmes como: Tarzan-o rei das selvas, Jerônimo - o herói do sertão, Marcelino, pão e vinho, O Manto Sagrado etc.

Na década de 50/60, as programações musicais eram realizadas através da radiola de manivela ou de corda, depois vieram as que funcionavam com a bateria de caminhão (acumulador) que eram recarregadas em um gerador. Assim era transmitido para os serviços de alto-falantes, quando não havia luz elétrica. Quando a música começava a arrastar, era preciso dar corda, se lembra Nadinho que fez muito esse serviço, no Bar Imperial de Pedro Araújo (Pedro do Xanda) Quando a bateria descarregava, a festa acabava. Da mesma forma acontecia no Elite – Bar situado no Beco do Eucalipto de José Alves Brasileiro (Zezito).

Florêncio Pereira era uma pessoa alegre, bem humorado e gentil marchante, conhecido de todos, assim como Seu Esaú, Seu Amâncio e outros. Era filho de João Bento e Dona Martinha (parteira) exercia outras atividades, como lavrador, gostava de caçar e de pescar.

Era no seu bar situado na Rua do Namoro onde se juntava o grupo de boêmios da época. Manoel Cajazeira, Louro Malaquias, Valdir, Piuca, Amorzinho, Bimba, Seu Egídio, Seu Diga entre outros, que cantavam boleros, dançavam, sambavam, sapateavam ao som de viola, cavaquinho, sanfona e muitas vezes chegava lá uma banda de pífaros. Não podia faltar uma boa pinga e raiz nesse local onde negociavam cavalos e animais de raça, organizavam festas de argolinha e de reisado; ouvia-se também muitas piadas e anedotas.

O “Guará" já citado, também conhecido por Velho Alto, (por ser bem baixinho) era um bom funileiro, fazia vários serviços, como foles para acender fogo ou esquentar o ferro de passar, ferraduras de animal. Certa vez, ele se dirigiu à venda que ficava em frente ao local do atual Mercado Municipal, cujo dono era Seu Zé Pedro, (Zé Priquitinho) e lhe perguntou:

- Tem prego ?
- Não! Respondeu Seu Zé Pedro.
Passado uma semana, o comerciante encontrou com o Velho Alto na feira e foi logo lhe dizendo:
Velho Alto! Os pregos chegaram!
E este, lhe respondeu num só grito:
- Não tô lhe perguntando.

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